Recentemente li um texto cujo título é "Ninguém é obrigado a gostar de você". O tipo de reunião de palavras que equivale a uma bofetada ou a um chute no diafragma.
Começa discorrendo sobre a incapacidade natural do ser humano de lidar com a rejeição, e isso desde a mais tenra idade, quando os pais mascaram a situação, dizendo-nos que, se alguém não nos curte, o problema está na pessoa. O que não é bem verdade, ou, pelo menos, não é sempre verdade.
Às vezes o problema está nas outras pessoas, mas, em outros casos, pode estar na gente e, ainda em outras situações, não há na verdade problema nenhum. Apenas o exercício do direito de gostar ou deixar de gostar.
Citando a internet no geral e as redes sociais em particular por exacerbar ainda mais esses complexos, a autora menciona uma situação que ela mesma viveu, de alguém que gostava dela e de repente (ou talvez não tão de repente assim) deixou de gostar.
Como quase todo texto que trata desses assuntos de emoções e sentimentos, é tudo meio óbvio, mas às vezes as obviedades estão tão no nosso nariz que não as enxergamos.
Enumerando alguns aspectos da questão, a autora mostra que quem não gosta da gente desde sempre ou que de repente deixou de gostar não é uma pessoa "ruim" ou "errada" ou "de mau gosto". E as características do verdadeiro gostar são a autenticidade, a naturalidade, a suavidade e a leveza. Não pode ser obrigação, favor, caridade.
E a reciprocidade é como ganhar na loteria, dada a sua dificuldade em acontecer. Se alguém gosta e é "gostado" na mesma medida, acertou sozinho na Mega-Sena acumulada.
Só não concordei com o último parágrafo, quando a escritora se dirige a aqueles que estão no grupo dos "não gostados" ou dos "não gostados mais", que é, claro, o seu público alvo desde sempre. Aí o artigo fica com uma cara de livro de autoajuda, tentando levantar a bola do rejeitado.
Nessa parte final - e ruim - há uma frase que achei intragável, e que até o momento em que escrevo não consegui digerir: "Você é incrível em todas as suas maneiras, mesmo que nem todo mundo que você quer veja isso".
Não é bem assim. Poucas pessoas são incríveis. Pouquíssimas pessoas são facilmente gostáveis, e algumas são tão miseravelmente pesadas e negativas que jamais deveriam ver a luz do sol, trancafiadas pela vida toda na mais escura das masmorras. Eu sou uma pessoa chata. Não gostável. Tentando muito e com toda sinceridade do universo mudar, e lutando muito para conseguir isso, mas ainda sou uma coisa não gostável, e se alguém gosta de mim, eu olho e penso "Óia!" e intimamente agradeço pela sorte que tenho.
Então, às vezes é difícil, e não raro impossível gostar de alguns seres humanos. Principalmente quando tem tantos outros ao redor que pelo menos parecem mais leves e são cheios daquelas frases que derretem pela leveza e otimismo (claro que pode ser tudo uma deslavada mentira, mas a pessoa que passa a gostar desses tipos não sabe; descobrirá depois, se conviver).
Querer não é poder, eu disse outro dia noutro texto. E reitero. Eu queria muito ser leve, agradável, estou trabalhando muito para isso, e até acho que estou obtendo vitórias e evoluindo. Mas dou muita mancada, retrocedo muito, um idiota. E com isso ainda sou muito "ingostável"... :( Triste, porém verdadeiro.
E se alguém não gosta de mim ou não gosta mais de mim, não posso fazer nada, certo? Errado! Posso tentar reverter a situação, torcendo para que não seja tarde demais.
O diabo é que quando alguém não gosta de você ou não gosta mais de você, e você gosta dela, não é um passe de mágica você desgostar também. E dá-lhe ruindade e qualidade de vida ruim. Mas é um preço. Alto, sem retorno, não é um investimento, é um prejuízo.
Mas ninguém nunca disse que a vida é fácil.
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