sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Humano, Demasiado Humano

Eu nunca liguei para partidos políticos mais do que para as pessoas que os compõem. Nunca privilegiei o time em detrimento do jogador. Nunca olhei mais a religião do que o praticante. Não sou espírita, mas admiro imensamente a figura humana que foi Chico Xavier. Não sou católico e respeito muitíssimo os papas João Paulo II e o atual, Francisco. E, na medida em que fui sabendo de suas lutas e de seus sofrimentos, os quais comenta sempre de maneira positiva, também passei a ter uma admiração pelo ser humano Fábio de Melo.
Recentemente, esse religioso lançou um livro sobre si ("Humano Demais", Globo Livros), escrito por Rodrigo Alvarez a partir de conversas deste com o religioso. O padre faz revelações corajosas. Mostra sem medo que, antes de ser um sacerdote, é um homem de carne e osso sujeito a tentações e dúvidas. Como todos nós. E a gente - pelo menos eu, sim - sempre pode aprender com os exemplos de outras vidas.

Entre as revelações está o fato de que por muito pouco ele não deixou de se tornar padre, quase desistindo em pleno período de preparação. Chegou mesmo a desobedecer os votos de castidade ao se apaixonar por uma mulher (identidade obviamente não revelada) que na época tinha 25 anos. Ele, 22.

Cedendo aos encantos dela, namorou firme e forte e teve vontade de ser pai. Mas a moça mudou de cidade e terminou o relacionamento, principalmente pelo dilema que ela enxergava nele.

“Nasceste para ser padre... Segue a tua vida!”, disse ela, de acordo com depoimento descrito no livro.

Quem já passou por situação semelhante se identifica de imediato, e é interessante ver que os trabalhadores da obra cristã não são figuras inabaláveis e acima das tragédias dos meros mortais - coisa que eles também são.

Outra passagem surpreendente da biografia é o relato da morte trágica de uma das irmãs do padre. Em 1996, Heloísa sofreu um acidente de ônibus e foi a única passageira que não sobreviveu, após ser atingida por um objeto de ferro armazenado irregularmente no compartimento acima dos bancos. Fatalidade em parte causada pela irresponsabilidade de outros. Fábio confessa em seu livro que carrega essa dor até hoje, mas que conseguiu, à custa de muita oração, perdoar a pessoa (seja quem for) que foi negligente e causou a morte de Heloísa. 

Em um dos pontos mais impactantes (para mim) da obra, Padre Fábio de Melo conta que ficou entre a vida e a morte ao ser diagnosticado com hepatite, aos 35 anos de idade. Os médicos acreditavam que era uma artrite, devido às fortes dores que ele sentia por todo o corpo.

Contudo, após ficar muito debilitado, sem ter forças nem para falar, Fábio recebeu o resultado de novos exames e foi constatada a “hepatite aguda, em estágio avançado”. Naquele momento, como diz o título da biografia, ele foi "humano demais": “Chutei a porta do quarto com raiva, dizendo que preferia morrer”. Depois da primeira reação de desespero, conta que buscou a Deus e ao Seu perdão, aceitou o que quer que lhe viesse e acabou vencendo a enfermidade, após quatro meses de intenso tratamento.

O que me fica da leitura de um livro desses, tão sincero, é que, religioso ou leigo, crente ou ateu, estamos todos no mesmo barco, sujeitos às intempéries da vida. E devemos lutar e jamais invejar a situação de outro(s), pois não sabemos de suas lutas. Não é difícil que aquele ser que invejamos reze toda noite para ter uma vida como a nossa...

Pense nisso.

(Nota: o título deste texto vem de um livro - que também me marcou em uma outra época - de Friedrich Nietzsche.)

2 comentários:

  1. Realmente, no final da conta Somos todos humanos...
    Parabéns pelo trabalho, eu adorei :*

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    1. Muito obrigado! Continue comigo, os textos são diários, de segunda-feira a sábado. Sua participação é muito importante! :*

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