sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Universos Particulares




 

Uma das ironias das modernas tecnologias da informação é que elas foram criadas para aproximar as pessoas, encurtar distâncias e economizar tempo. Pode ser que estejam sendo bem sucedidas no segundo objetivo, mas quanto aos outros dois...

O que vemos quando a informática está envolvida é um monte de pessoas se isolando, seres humanos cada vez mais distantes uns dos outros, mesmo se próximos espacialmente. Quanto ao tempo, nunca se desperdiçou tanto tempo em ações sem objetivo ao se navegar na Grande Rede, e muitas vezes as tarefas de verdade vão se acumulando no mundo real enquanto o usuário perde a noção das horas na dimensão virtual.


Entrar no Google para fazer uma pesquisa, quando se sabe o que procurar, é a coisa mais prática do mundo. Mas quase todo mundo vai abrindo guia após guia, janela após janela, e as redes sociais e os sites nada-a-ver-com-o-assunto-pesquisado vão se acumulando. O Tempo, esse elemento misterioso da existência, começa a se mover com velocidade absurda assim que percebe que estamos na internet. Aí estamos atrasados, e não pesquisamos pissirica nenhuma no fim das contas.


A média de tempo transcorrida entre a decisão de sair do Facebook e a efetiva saída costuma ser de quinze minutos. Essa a menor média obtida! E a questão não é só relativa a usuários da net. Quando seres humanos pós-modernos são obrigados a dividir um mesmo espaço...


Seja numa sala de espera ou num ônibus do transporte coletivo público, muitas pessoas podem perfeitamente estar juntas e não tomar o menor conhecimento umas das outras. Olhos fixos na tela do celular, tablet ou notebook tornam inexistente na prática o mundo e os seres ao redor. E mesmo que os olhos perscrutem o panorama circundante, as pessoas veem tudo e não enxergam nada, se os ouvidos estão recebendo os sons saídos dos fones de ouvido.


Imerso em seu mundo particular de músicas, palestras ou audiobooks, o indivíduo se desconecta de seus (des)semelhantes. Há até quem coloque os fones nos ouvidos sem que se ouça absolutamente nada do celular, apenas para diminuir as chances de alguém interagir, puxar assunto (embora haja pessoas que puxam mesmo se você está plugado no aparelho). “Ah, ele tá ouvindo música, não adianta começar uma conversa...”

  Essa cultura individualista faz com que o contato interpessoal seja cada vez mais raro, bastam as mensagens trocadas pelos whatsapps, messengers, hangouts, telegrams, skypes, vibers, vivo tu gos, weChats, zapZaps, kik messengers, lines e kaKaos da vida (a lista é bem maior, mas este escritor não quer comprometer tanto o texto). A maioria dos usuários não se vê como arredio e muito menos como antissocial, já que esses aplicativos são – é óbvio! – meios de socialização. E como são práticos! Se você deu parabéns na rede social, caso cruze com a pessoa na rua ou no shopping não precisa falar nada! E fazer caridade virtual é tão mais fácil que do modo “antigo”! Compartilhe postagens para ajudar os necessitados e vá dormir de consciência tranquila como o bom cidadão que você é! Comente “Amém!” nas postagens alheias e mostre que você é religioso(a) e que merece um lotezinho no Céu!

E até os relacionamentos sofrem com essa imersão no mundo virtual. Casais de namorados nem dão atenção um ao outro mais do que aos seus aparelhos que os "conectam ao mundo", desconectando-os do convívio com o Outro. E se apenas um tem essa mania, como sofre o outro na relação!

Pois é, né? Pra que nos colocarmos na chatice do mundo real, onde controlamos absolutamente nada e ainda somos avacalhados, se cada um pode ser o Senhor de seu próprio Universo particular?



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