O
ano de 2016 já conta cinco casos de mães que se matam e levam consigo os filhos
como maneira de retaliar o pai dos pequenos. O mais recente episódio tem a
genitora açoriana de 40 anos regando com gasolina o automóvel e nele entrando
com a cria de 3 anos, ateando fogo em seguida e matando a si mesma e ao
inocente.
O contexto era de
separação conjugal e de disputa pela guarda do filho. A justiça tinha decidido
que o pai da criança podia ver o menino de 15 em 15 dias, o que pareceu à
mulher um absurdo maior que o assassinato e o suicídio. Nas redes sociais, como
sempre os comentários criaram grupos opositores. Houve quem apontasse o egoísmo
da mulher, mas teve quem visse altruísmo, o mundo é demasiado cruel para deixar
uma criança para trás e a mãe a poupou de futuros sofrimentos – sem perguntar o
que a parte mais interessada achava.
Não se trata aqui de
julgar/condenar essas infelizes que cometem ato tão extremo. Desconheço o que
viveram antes desse dia derradeiro. Não sei o que passaram, ignoro seu estado
mental. Perfis psicológicos têm sido traçados acerca desse tipo particular de
crime, a já há padrões. Quanto menor é a idade da criança, maior é o risco de
filicídio. As mais vulneráveis são as que têm menos de cinco anos, ao passo
que, quando as mães agem por doença mental ou por retaliação ao companheiro
matam crianças mais velhas, com mais de cinco anos. Quando são mães
maltratantes ou negligentes matam crianças mais novas.
É bem conhecido de
quem curte mitologia a história de Medeia, que matou os dois filhos para se
vingar do herói Jasão. A personagem de Eurípides tinha de antemão uma índole
má, pois anos antes de matar a prole assassinara e esquartejara o próprio
irmão. Se um ato desses já choca como peça de mitologia, imagine-se os casos
reais de pessoas que poderiam ser nossas vizinhas ou colegas de trabalho.
A Psicologia
registra cinco tipos de filicídio. O altruísta (mãe se mata junto com o filho),
por vingança (mãe mata apenas o filho), acidental, o da criança indesejada e o
causado por doença mental. Quanto à classificação das mães filicidas, há as
desapegadas, as negligentes, as abusivas, as deprimidas (ou psicóticas) e as
retaliatórias. Em todos essa tipologia, cujos itens guardam tantas diferenças,
há apenas um ponto em comum: por causa de escolhas dos adultos (salvo em caso
de doença mental), as crianças é que levam a pior.
Sem medo de usar um clichê, este mundo está cada vez mais hostil aos pequenos, e eu até entendo quem se recusa a colocar filhos no mundo. Talvez seja, apesar das boas intenções, uma crueldade involuntária...
Nenhum comentário:
Postar um comentário