Quero pedir licença a meus leitores para ser muito pessoal hoje. Quero falar sobre meu pai.
Hoje completam 31 anos da morte física dele. Sim, porque de certa maneira ele ainda vive, pois está sendo lembrado aqui. Acho mesmo que as pessoas só morrem de verdade quando a lembrança delas morre.
Meu velho, eu tento até hoje entendê-lo. Muitas coisas poderiam ter sido diferentes e, sem dúvida, ele não foi o pai mais presente deste mundo. Mas era mais uma questão de qualidade do que de quantidade de tempo juntos. Aprendi muito com ele, nos curtos períodos em que convivemos. Aprendi com o que ele dizia, aprendi com o que ele fazia, que geralmente não batia com a fala. Mas aprendi principalmente com os erros dele.
Houve um tempo em que eu tinha medo de terminar como meu pai. Seu patrimônio ao morrer? A aposentadoria, que gastava à medida que ganhava, e o mês geralmente terminava antes da grana, algumas poucas roupas, e alguns livros.
Não deixou dinheiro no banco. Nem em qualquer outro lugar. Na época em que morreu, morava de favor na casa de um sobrinho. E morreu sozinho, de madrugada, vítima de um infarto fulminante (nunca conseguira deixar de fumar).
Sob o ponto de vista prático, numa análise fria pode ser dito que ele fracassou completamente. Mas a vida não é feita só disso, me disse alguém certa vez. Meu pai era um leitor voraz, e herdei isso dele. Quando não havia absolutamente nada para ler, ele pegava remédios ou cosméticos ou mesmo uma caixa de fósforos e ficava lendo os rótulos! O leitor que sou hoje, vi em meu pai antes de ser. O desenhista... bem, esse não, que meu pai sabia desenhar uma única coisa, um pássaro, e eu aprendi a desenhar do jeito dele, talvez um dia eu poste aqui.
Papai era um frasista de mão cheia. Guardei umas cinquenta frases dele e algumas eu uso no dia a dia. Ele sabia dar excelentes conselhos. Teria dado certo na vida (ou não) se tivesse seguido pelo menos um deles!
Não sei se o encontrarei um dia do lado de lá ou em outro lugar qualquer. Descobri há pouco tempo que não sei absolutamente nada desses protocolos além-túmulo, e "há tantos caminhos, tantas portas", que realmente não sei. Mas acho que seria bom. Não tenho a menor ideia do que diria a ele. Talvez nada. Tem horas em que apenas olhares bastam.
Se meu pai me amou? Gosto de pensar que sim, do jeito desastrado, irresponsável e sem noção dele.
Se eu amei meu pai?
Do meu jeito, ainda amo, e mais a cada dia.
Descanse em paz, meu velho.
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