sábado, 21 de janeiro de 2017

Dois unidos em UM



Ela era sol, quente e brilhante, e ele era chuva, por vezes torrencial e quando em vez tranquila; ela era barulho, sons em profusão, e ele quase sempre silêncio, ausência de vibrações sonoras; ela, o pé fincado no solo, e ele, embora tivesse seu necessário quinhão de realismo, tinha a capacidade de enviar a mente acima das nuvens; ela, medo mais que desejo, e ele desejo mais que medo. 

Ela e ele se encontraram e a empatia se fez, e a simpatia veio logo depois. Mais tarde, outro sentimento, indefinido e indefinível se aproximou da dupla. E se envolveram, mesmo apesar das diferenças.

Quem analisasse aquele começo diria que não haveria meio, mas simplesmente o fim. Só que eles contrariaram tais previsões. E caminharam juntos, e a companhia era reciprocamente agradável.

Com o tempo, perceberam uma coisa interessante. Embora já fossem completos antes (seus seres não eram mutilados, mas a Criação os fizera inteiros e plenos), um comple(men)tava o outro, como o yin ao yang. E o olhar dele para ela era simplesmente uma muda declaração de amor - não que ele também não declarasse em palavras.

E vieram as intempéries naturais da vida, e eles notaram que "é melhor serem dois do que um", e ao fim de um dia complicado de trabalho encontravam num abraço aconchegante o descanso que tanto necessitavam. E aquilo era Paz.

E se às vezes o frio trazido pela chuva ameaçava enregelar os nós dos dedos e a alma, o sol brilhava e trazia o calor e a reconfortante sensação da água morna. Quando o barulho era muito e os ouvidos carnais e espirituais pediam arrego, o silêncio se fazia e ela, com a cabeça recostada no peito dele, ouvia aquele bater de coração, e ela sabia que morava ali. 

Mas quando a realidade esturricava o chão dos projetos, era a chuva que fazia brotar novas metas e objetivos. E se o silêncio oprimia em seu grito mudo, um pouquinho de algazarra fazia brotar sorrisos e risos no rosto dos dois.
 
E se os pés fincados na realidade, mesmo sendo necessários para conter o impulso vão, por vezes tornavam o horizonte desprovido de entusiasmo, era o sonho e a viagem os antídotos para a rotina e o marasmo. E se havia medo e desejo em doses variadas, ambos se desejavam e isso era bom.

Com o tempo, administraram cada vez melhor as diferenças e perceberam que, dentre todos os lugares, o melhor era ao lado um do outro, e que o melhor momento era quando estavam a sós em seu universo particular, que poderia ser a amplidão de uma praia ou o aconchego de um quarto.

E ele a amava, de um jeito que não sabia expressar com palavras, e ela gostava dele e nele tinha um porto seguro e um companheiro que a apoiava e estava sempre ali, junto e parceiro.

Uniam-se os dois e formavam uma unidade, em cumplicidade e igualdade de caminho. E isso era plenitude, numa vida que para todos é curta demais para ser solitária.

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