segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A Pessoinha Fortona

Ilustração © Carlos Terrana


Pode parecer à primeira vista um contrassenso e um paradoxo, 'pessoinha' é diminutivo, como pode essa criatura ser 'fortona', aumentativo imponente? Parece haver algo errado nessa equação. E, na verdade, há mesmo.

Muitas vezes por arrogância, mas boa parte delas por medo de sofrer (talvez 'de novo'), as pessoas entram numa onda de ser "fortes", de fazer o que lhes dá na telha. E sempre que alguma coisa dá problema, colocam aquilo longe de si, se afastam, descartam. É mais fácil jogar fora do que tentar consertar (não tem importância que isso vire um mantra aqui, já foi dito e de novo o será).

Deu vontade de fazer algo? Faça. Sua vontade é a alavanca de Arquimedes, com ela você move o universo. Que, aliás, gira em torno do seu umbigo. Os outros, que sejam encarados paulatollerianamente como "os outros, e só". E esse ser 'forte', praticamente autossuficiente, tenta crer todo o tempo que é o fodão/fodona. Badass, em bom inglês.

E evita ficar sozinho, busca agito e companhia de amigos ou não, de conhecidos ou ilustres anônimos, porque sempre que fica só o silêncio lhe diz a verdade. Que é bem diferente daquilo que essa pessoa vive.

O tratorzão segue, passando por cima de tudo, revida os golpes da vida na ilusão de que a vida sente, mas é só ele que sente, e muito. Pensa que é fogo e pode queimar quem chega perto (pausa para rir dessa tolice), ao passo que em verdade é feito/a de carne e sangue, músculos e nervos, ossos e sentimento, e, acima de tudo, muita fragilidade!

E diz a quem quiser ouvir que não sente medo, mas a si mesmo assume que o tem. Talvez diga a uns poucos íntimos, mas geralmente não. E segue, enganado e enganando alguns tolos que os/as elegem seus ídolos, espelhos, exemplos. E lá vai mais gente se equivocar e tentar esquecer que é gente.

Dignos de inveja? Nunca! Merecedores  de aplauso? Jamais! Apenas aquele dó, aquela misericórdia que se deve sentir por quem corre a passos largos para um abismo que ele mesmo criou. E cujo único prêmio é a solidão ou relacionamentos insatisfatórios, pois quem quer se queimar deliberadamente? As pessoas procuram paz, portos seguros, não dores de cabeça evitáveis - já bastam as que não se pode evitar... E não raro essas pessoas perdem a chance de acolher em seus corações um amor verdadeiro que, embora imperfeito - pois nada o é -, é o que de melhor poderia lhes acontecer, posto que é sincero, artigo raro neste mundo líquido.

Talvez seja uma boa ideia tentar mostrar a esses coitados a verdade. E se a criatura (humana) não estiver demasiado cega, talvez mude em tempo. Mas, infelizmente e geralmente, não.

Nenhum comentário:

Postar um comentário