Millôr Fernandes, um dos brasileiros mais inteligentes e bem informados que já existiram, ficou famoso pelos seus escritos, entre crônicas, poemas, peças de teatro, mas as suas frases soltas é que o tornaram uma espécie de cult.
Escreveu para os melhores jornais e revistas do País. Escreveu também para a Veja. Sempre um pessimista não assumido diante da vida, ele se esquivava dizendo "não sou pessimista. Sou realista, e a realidade é péssima!". Touché!
Analista impiedoso da raça humana, Millôr cunhou termos, expôs pontos de vista e sedimentou assertivas que provocam polêmica ainda hoje. Ou seja, são palavras de peso e perenes.
Um desses exemplos: "A ocasião em que a inteligência do homem
mais cresce, sua bondade alcança limites insuspeitados e seu caráter uma pureza
inimaginável é nas primeiras 24 horas depois de sua morte".
Essa frase me lembra o velório do meu pai. Acontecia esse evento um dia antes do dia de Finados de 1985, e um antigo desafeto do meu velho entrou, deu aquela aproximada protocolar em direção ao caixão, observou por instantes atentamente o rosto do defunto - talvez, no caso, para se certificar que acontecera a "passagem", e depois veio até mim.
Mão no meu ombro, disse:
- Seu pai era um bom homem.
Discretamente, para que ninguém além dele ouvisse, falei:
- Vocês sempre se detestaram. Agradeço por ter vindo aqui, mas não precisa ser falso.
Até hoje detesto esse tipo de coisa. Um homem ruim em vida vira um defunto ruim, não um "bom homem". A morte não envilece, mas também não melhora ninguém. Qualquer comentário nesse sentido é filho da hipocrisia.
E dá lugar a frases como a de Millôr...
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