O Bebê nasceu,
recém-chegado ao mundo lutou, e lutou sozinho. Médicos e enfermeiros ao lado de
nada valiam, a luta era só dele. Por mais que se esforçassem, cabia a ele, e
unicamente a ele, se livrar da secreção que o sufocava e evitar o abraço
Daquela que se postava ali, ao lado da mesa de operações, já pronta a levá-lo
de volta no mesmo instante em que ele deixava a segurança e o calor do útero.
Venceu sozinho a
primeira de muitas lutas. E tornou-se criança em várias fases, sem nenhum Anjo
da Guarda para protegê-lo de si mesmo e dos outros. Venceu sozinho inúmeras
batalhas. Perdeu algumas, mas nenhuma fatal, e continuou.
Adolescente,
enfrentou guerras internas e externas, rebelou-se e foi devidamente
repreendido, cerceado, limitado e restrito. Mas não foi completamente
derrotado, e a cada embate tornou-se mais duro e consciente do fato de estar
sozinho.
Homem, viu que era
um ser solitário na vastidão do mundo. Havia muitos inimigos que podiam fazer
mal, e uns pouquíssimos amigos de verdade que podiam ajudar no básico, mas que
não poderiam salvá-lo. Ninguém podia nem poderia. Descobriu a Divindade,
mas aprendeu que milagres não existem e que de nada adianta pedir aos Céus por
qualquer acontecimento que melhorasse as coisas. Milagres não existem. Apenas o
Ser Sozinho.
Mas o Homem
conseguiu sobreviver. Machucado no corpo, na alma e no espírito, mas ainda
assim vivo, embora tenha tentado deixar essa condição. Foi-lhe negado aquele
abraço que ele evitara no dia em que nascera. Ironia.
Conheceu coisas
terríveis ao longo da existência. Sentimentos bons que não tinham força,
sentimentos maus que arrasavam continentes, e sentimentos que não encontravam
retorno nas idas sem volta das caminhadas a dois que deixavam apenas um par de
pegadas na areia (e não eram da Divindade: lembrando sempre que não há
Milagre).
E quando enfim
chegou a hora do Abraço, O Velho sentiu-se aliviado. Quantas vezes chamara
Aquela que agora lhe sorria, estendendo-lhe a Mão que traria o Descanso dos
sofrimentos do Vale de Lágrimas! E olhando para trás viu que em todos os
momentos de sua existência que diferença nenhuma fez esteve absolutamente
sozinho, mesmo cercado de amigos, "amigos", "amores",
amantes, filhos, pais, (des)conhecidos.
E não pôde deixar
de sorrir ao olhar para os lados e perceber que estava desacompanhado naquele
quarto de paredes brancas. A solidão era completa, e seria mesmo se o aposento
estivesse apinhado de pessoas. Viver é estar só. Talvez do Outro Lado exista
algum tipo de Companhia. Mas ele não ligava. Não faria nenhuma diferença. Estava
Livre. Livre dos grilhões da Vida.
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